A esperança era grande. Sempre era. Sempre que a via aquela chama acendia. Querendo ou não. Era dia, o sorriso dela já tinha sido mostrado. Agora era diferente. Já havia um passado, ainda que único e pontual. Havia muita história. Mas o que nunca houve foi diálogo.
A descrição de um encantado talvez seja falha. Talvez imprecisa. Mas sem dúvida, é bela. Os olhos pintados, a saia curta e colorida, o corpete preto. O olhar impenetrável de sempre. Linda, com os cabelos enrolados, a maquiagem ressaltando seus olhos castanhos, a pele branquinha, macia como os meus sentidos não deixam esquecer.
As mãos escorregadias escapavam de mim a todo momento. Não adiantavam gestos, e as palavras mal saíam. Ela mal olhava. Nossos diálogos eram inexistentes. Só aconteciam quando estávamos em conversas com outras pessoas. Só assim aqueles olhos encantadores me olhavam e eu podia vê-los, bem no fundo.
A noite passou, a madrugada invadiu e trouxe surpresas. Ela dormia, todos dormíamos. Amigos, que dividiam aquele espaço naquela noite. A proximidade entre nós me levou para mais perto dela, envolvendo-a com um abraço. Um abraço que foi correspondido, de forma surpreendente. Um abraço que transformou-se em sonho, em um pedaço do paraíso. Um sonho envolto em beijos que pareciam ter parado o tempo.
Um suspiro suave e o mundo desaparece. Minutos que não tem segundos. Mas que acabam...
E trazem de vlta a dúvida, a falta de olhares, a ausência completa do diálogo. Alguns sorrisos, algumas palavras. Muitas palavras no silêncio, mas nenhuma sobre o mundo que ficou parado, sobre os sentimentos indescritíveis que passavam ali na minha cabeça. E as palavras não saíram, e o tempo passou e a dúvida ficou.
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