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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Beleza mineira

Jornalista. 25 para 26 anos. Cursando o doutorado em linguística aplicada. Sim, é isso mesmo: aos 25 anos, já tinha começado o doutorado. O mestrado já tinha feito em Minas, na universidade federal da capital mineira.

No começo, o que chamava a atenção era o sotaque. Forte, carregado, comendo letras e destilando charme. Aos poucos, apareceu a inteligência, um rosto com traços fortes, uma boca grande, cabelo castanho claro, pintado. Uma cor que parecia caramelo.

Viam-se em reuniões semanais. A orientadora fazia questão que todos, uma vez por semana, estivessem juntos: doutorandos, mestrandos e nós, de iniciação científica. A cada semana, alguns apresentavam resultados parciais de suas pesquisas e colocavam o trabalho para ser questionado, receber sugestões.

Aos poucos, conversaram mais. Afinal, ela era jornalista formada, uma área que muito interessava a ele. Morava em Minas, vinha a São Paulo apenas para receber a orientação sobre seu trabalho. Tinha uma filha de cinco anos.

Algumas conversas do lado de fora da sala de reuniões. Ao ar livre, enquanto ela fumava, sempre com uma ou outra pessoa do grupo junto. Uma mulher alta, quase sempre usando saias escuras, quase sempre pretas. O sorriso, a fala sempre tranquila, com aquele sotaque mineiro típico, gostoso de ouvir.

Olhares. Foi o que fizeram por algum tempo, até trocarem também sorrisos. Passaram a conversar mais. Resolveram conversar também pelo msn. Foi aí que começaram a conversar sozinhos - pessoalmente estavam sempre acompanhados de outras pessoas.

As conversas aqueceram a relação. A amizade, a princípio, mas estava claro que os dois queriam ver até onde aquilo ia. Embora ele fosse mais novo, estivesse na graduação enquanto ela fazia doutorado, tinham conversas ótimas. A diferença de idade não era tão grande. Ele tinha 20, ela 25.

Descobriu que no começo, quando se conheceram, ela era casada. Muito bem casada. Mas aconteceram problemas, se separaram. A filha dela era dele. Casou-se jovem, separou-se também muito jovem. Charmosa, interessante, inteligente e linda, deu espaço para que se aproximassem, flertassem.

Resolveram marcar um encontro. Ela já não dormia mais em hotéis quando vinha a São Paulo - ficava na casa de uma amiga, também do grupo da orientadora. Mas naquele dia, fingiria que iria embora, se encontraria com ele e passariam a noite juntos.

Se encontraram. Ela com malas, ele a ajudou. Foram até um restaurante bar, tomar uma cerveja, conversar. Aquele sotaque o fazia sentir-se mais e mais encantado por ela. Ela, com um olhar sereno, sedutor, fitava-o no fundo dos olhos.

Acendeu um cigarro enquanto ele falava. Ela já tinha bebido chopp com groselha, ele cerveja. Beberam um pouco mais enquanto conversavam.

Ela estava do outro lado da mesa, mas veio para o lado dele. Os olhos dos dois se procuraram. Os rostos se aproximaram. Aquela boca enorme, com lábios grossos o atraía. Ela não conseguia parar de olhar os olhos cor de mel, não aguentava mais de vontade de beijar aquela boca que via na sua frente. O beijo, com os lábios quentes, foi inevitável.

- Achei que isso nunca fosse acontecer - disse ela.

Ele também não. Na verdade, não imaginava que pudesse acontecer. Não se imaginaram juntos no começo, mas a atração nascer, cresceu e se tornou forte. Os levou até ali, juntos.

- Aqui perto fica o hotel onde me hospedava quando vinha para cá, nas primeiras vezes. É simples, barato, mas serve para passarmos a noite.

Seguiram para lá. Lugar bem simples, preço acessível. Quartos pequenos. Com cara de motel. Se registraram no hotel, por uma noite apenas. Seguiram, sorrindo, para o quarto. As mãos dadas nos corredores, como duas crianças levadas, prestes a aprontar.

Entraram no quarto e se sentiram aliviados. Estavam ali, tranquilos. Tinham tempo, tinham um ao outro. Tinham desejo. Ela tirou as botas, enquanto ele a observava. Via como ela era linda, sedutora, como ela o tinha encantado. E estava ali, diante dela, prestes a tê-la nos seus braços.

Sem pressa, curtiram a cama, os beijos, os abraços, as roupas sendo tiradas. Ele ficou impressionado ao vê-la sem roupa. Como era linda, que corpo tinha... E aquela lingerie preta, em contraste com sua pele.

Ele sentiu o gosto dela na boca, nos lábios. Ela o sentiu com a boca, com o corpo, com os olhos, com o seu calor. Os dois se fizeram um. Ele queria dar a ela os olhos fechados, a mordida no lábio, as unhas apertando suas coxas. Queria dar a ela aquele sorriso gostoso. Ela queria fazer ele sentir como um choque pelo corpo todo, fazer ele sentir o sangue ferver nas veias...

Fizeram daquela noite inesquecível. Fizeram daquela sexta-feira um encontro de um paulista com uma mineira. Seria o primeiro. Tornou-se também o último.

Se falaram pouco depois. Disseram que o encontro podia ir muito além daquilo. Que ele poderia visitá-la em Belo Horizonte. Que ela poderia vir a São Paulo. Sonhos e desejos de se ver que nunca foram concretizados.

Ela não o procurou. Ele não a procurou. Não tentaram mais. Ele se arrependeu de não ter tentado vê-la. Ela se arrependeu de ter apenas esperado por ele. A distância e o tempo foram apagando os contatos de um com o outro. Quando deram por si, não conseguiram mais encontrar uma maneira de se falar. Tinham perdido o contato completamente. Nem telefone, nem e-mail, nem msn, nem Orkut, nem nada. Só tinham consigo a lembrança. Mais nada.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Cartas Reais, 2

Querida,

Insisto em te chamar de querida, porque é assim que sinto você. Ainda que tenhamos ficado afastados nas conversas, que não tenhamos mais ficados próximos um do outro, que eu não tenha sentido mais o calor das suas mãos. Ainda assim, você é muito querida por mim.

Por razões que eu não sei explicar, sinto-me bem quando te vejo, te ouço. Sua frieza quando nos falamos algumas vezes me congelou. Não conseguia ver uma palavra amistosa, ainda que você nunca tenha deixado de ser educada. Você parecia estar do outro lado do oceano.

A verdade é que fiquei frágil quando descobri o quanto gosto de você. Só via a fortaleza ao seu redor e perdi os seus olhos te vista, que não me fitavam mais.

A tua frieza unida à minha timidez me impediram de te dizer tudo que eu queria. Me impediram de dizer o quanto você mexe comigo, o quanto seu sorriso me faz feliz, o quanto sonhei com o nosso primeiro beijo.

Nossa distância, ainda que apenas emocional, acabou sendo boa. Pude colocar meus pensamentos em ordem e o sentimento por você pode amadurecer. Deixou aquela sensação de ímpeto para traz, mas ainda faz meu coração explodir no peito quando te vê. Vejo você nos meus sonhos, imaginando você nos meus braços...

Talvez o tempo tenha nos reaproximado um pouco, talvez eu mesmo tenha ficado mais perto, talvez você tenha me olhado com mais carinho. Fato é que você continua linda, sua pele continua macia cada vez que eu a toco, seu sorriso cheio de mistérios continua me seduzindo em cada sonho que toco nos seus lábios...

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Conto: o dia em que a namorada sumiu

Na quinta-feira à noite, todos do escritório se preparavam para sair. Seria uma noite cheia, pois nessa data se comemoraria o dia dos namorados. Mas Cleber só pensava no domingo anterior. Foi nesse dia que ele viu Suzana pela última vez.

Os detalhes ainda estão frescos em sua memória. Discutiram superficialmente sobre o fato da Suzana, ao estar dirigindo, não pegou a saída da via expressa e que teriam de contornar por um longo e tortuoso caminho, de volta para casa. A discussão foi áspera, mas brevemente esquecida. Fizeram amor naquela noite e se despediram com sorrisos no rosto.

Na segunda-feira, não se falaram. Cleber esteve ocupado o dia inteiro e só voltou para casa à tempo de dormir. Antes de pregar os olhos, porém, escreveu uma mensagem para o celular da companheira de como a noite anterior tinha sido boa.

Não havia resposta dela no dia seguinte. E assim permaneceu. Cleber decidiu ligar para Suzana, mas pôde apenas ouvir o telefone chamando até a linha cair. Tentou repetidas vezes, mas prevalecia o monótono tom de lá intercalado de silêncio.

Dúvidas mortais afligem Cleber. Será que ela foi sequestrada? Fugiu? Seria ele tão assim insuportável a ponto de alguém simplesmente fugir? Estaria ele sufocando e a impedindo de viver plenamente, de acordo com sua alma e natureza?

Silêncio. Hoje, no dias dos namorados, muito estão felizes, alguns indiferentes e outros desesperados. Cleber está vazio. Sua mente revisita cada segundo de convivência com Suzana, em busca de pistas sobre o seu desaparecimento. Saindo do escritório, Cleber caminha para o carro e encontra as flores, o porta-retrato e o DVD que comprara. Dirige instintivamente e logo se percebe parado em frente ao prédio dela.

Toca o interfone e aguarda 15 minutos. Quando vira-se para ir ao carro, uma voz feminina, eletronicamente modificada o chama. Não é a voz de Suzana.

"Desculpe, mas eu te vi pela janela". Cleber levanta o rosto e vê uma silhueta em uma janela acesa. e logo depois completa: "Pode subir".


sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Olá Enfermeira, parte 3

Nos encontrávamos quase todos os dias, e como passamos a conversar, começamos a trocar mais do que sorrisos e gentilezas. Era conversas dos mais variados tipos, o que foi nos aproximando cada vez mais.

Mas eu lembro bem do dia que eu a vi, mas ela estava sentada ao lado de um outro cara, conversando. Cumprimentei-a, sorrimos, mas fiquei separado dela. Sentei no banco bem à frente dela, o que me permitiu ouvir grande parte da conversa dos dois.

Conversa vai, conversa vem, ouvi o rapaz do lado dela comentar sobre a viagem que ela fez pela Europa nas férias, sobre as amigas, os amigos em comum - o que me leva a crer que se conhecem há tempos, talvez da escola - e sobre o... namorado.

Namorado?

Fiquei mais atento ainda. Ela não tocou mais no assunto.

Começamos a nos falar também pela internet, pelo msn e orkut. Passei a elogiá-la com mais freqüencia, já que tinha perdido parte da vergonha que segurava minhas palavras no começo. Ela, modesta, sempre dizia "só você mesmo..."

Foi lá no orkut também que confirmei: ela namorava mesmo. E pelo jeito, há bastante tempo. Tem até fotos dos dois.

É claro que foi uma decepção. Mas, por outro lado, sou bastante observador. Não nos falamos mais com tanta freqüência, mas pude perceber que ela mudou o "status" do relacionamento de "casada" para "namorando". Não significa muito, aparentemente. Mas juntando isso ao fato de ela, vez por outra, vir me deixar recado, me perguntando como estou e dizendo que sente minha falta nas manhãs que vai ao trabalho, temos um quadro possível de esperança...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O brilho da Lua

A suavidade daquele sorriso me despertou curiosidade. A alegria radiante do seu semblante me levou a vê-la mais de perto. Descobri, então, que era uma idealista. Estuda Serviço Social. Uma mulher de beleza deliciosa, delicadamente magra.

As minhas palavras despertaram a curiosidade dela também. Respondeu com palavras doces, que eu vi se repetirem algumas vezes. As conversas no msn intensificaram-se, a simpatia dela contagiava, sua inteligência e beleza formavam uma dupla incrivelmente sedutora.

O rosto delicado e o corpo magro eram de uma menina, quase adolescente. A inteligência e a sutil malícia eram de uma mulher de 25. A conversa frente a frente, com os rostos próximos e as bocas perigosamente próximas, criaram uma atmosfera de encanto. Encanto pela beleza, pelo sorriso, pela delicadeza, pela sedução.

O primeiro encontro foi das nossas mentes. Um mudeu, novo, belo, interessante. Um apreciador da história como eu se farta em um lugar como aquele. O seu sorriso era extremamente atraente, eu tinha vontade de pegá-la pela cintura e fazer dela minha. Mas esperei. Quis deixar que as coisas acontecessem a seu tempo. Minha atitude, em casos semelhantes, teria sido de partir para um ataque de uma vez, vencendo a timidez e solidificado na auto-confiança.

Com um cenário contraditoriamente belo e terrível, a estação Julio Prestes, nos conhecemos melhor, falamos de política, problemas sociais. Aqueles lábios eram um desejo meu, e sabia que ia realizá-lo.

Nos despedimos, esperei que ela fosse para ir embora também. Deixei, maliciosamente, tudo para o segundo encontro, que eu sabia que aconteceria. Aquele certo mistério, que sempre faz bem... Aquele jogo estava apenas começando.