sábado, 4 de abril de 2009

O beijo de palavras não ditas

Era um dia comum, que não conseguiu acordar cedo por ser sábado. Se deu o direito de acordar mais tarde. Por isso, chegou atrasado. Mas encontrou uma surpresa, vestida de azul. Uma bela surpresa, literalmente. E sua manhã começou bem.

Supermercado, prepração para o primeiro churrasco do ano. Um encontro de amigos, como acontecia com certe frequencia. O vestido azul, as compras, a bebida, a carne, os sorrisos. Ela, de vestido azul, postura de uma lady, sorriso suave, sem exageros em nada.

Sua conversa era sempre inteligente e interessante, o que a tornava muito sedutora. Mas ela representava um passado recente, um relacionamento de não-diálogo, de mil palavras não ditas, do beijo que não aconteceu. Ela representava uma disputa silenciosa. Uma disputa perdida, meses antes, que tinha doído muito. Mas tinha passado.

Quando, por um motivo qualquer, ficamos conversando só nós dois, senti seu sorriso mais perto. Não literalmente, mas uma abertura naquela que parecia ser o muro de Berlim, separando dois países que deveriam ser um só.

Com a queda do muro, a aproximação se tornou maior. O sorriso, os olhos, os cabelos, tudo foi ficando maior. Fui sentindo a pele mais quente, os lábios cada vez maiores, os olhos fechando... As cortinas se abriram e o espetáculo se desenvolveu como se estivesse na Broadway: mágico e indescritível. E quando percebi, já estava acontecendo o beijo, esperado até meses antes, inesperado para este momento.

O mundo parecia ter dado uma grande volta. Uma visita ao passado, sem a paixão, mas com a vontade reprimida por meses. Uma reparação do desejo, de um desejo que estava guardado, quase espequecido no meio das lembranças que tinham perdido o encanto.

Talvez seja o início de uma nova temporada. Uma nova temporada que passou por beijos suaves quando nos encontramos de novo, mas que duraram só dois dias. E que, parecia, ficariam no passado novamente.

Até palavras começam a ser ditas no silêncio e na distância. Um só pode ver o outro através das palavras de outra pessoa. Uma complicação daquelas que não se entende porque existem. Mas existem. E a temporado só (re) começou...

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