domingo, 23 de outubro de 2011

Você

Você...você me deixa curioso...

Só posso te ver de costas, vejo sua pele, seu cabelo, seus lindos pés, sua delicida mão.
Somando sua roupa, sua bolsa e seu relógio deduzo que você seja fina.
Pela leitura matinal, a fruta de café-da-manhã e a escolha do lugar você é inteligente.
Que vontade de te ver toda.
Mas se me levanto e te vejo posso não querer me sentar....
E se quiser sentar com você e não puder?


A solução é ficar aqui e te idealizar da maneira que quiser....

São Paulo - Café Girondino - 12/07/2011

domingo, 11 de setembro de 2011

Era para dar certo, mas...

O primeiro impacto já foi grande. Os cabelos cacheados, a pele branquinha, os olhos altamente expressivos, o olhar fosse sempre distante. Ela sempre impecável, com uma expressão sempre fria, analítica. Maturidade, calma nas palavras, os olhos brilhando ao falar. Inteligente, muito serena. Entre uma e outra palavra, um sorriso, discreto, mas marcante.

Na primeira festa, lá estava ela. Quando cheguei, a festa tinha começado há horas. Era a primeira com um novo grupo de amigos. Fui direto do trabalho, cansado, alguns já estavam bêbados, o som alto demais. E quando eu vi, aqueles olhos estavam lá. Só que passsavam longe de mim. Muito longe. Olhavam para outro, de perto, enquanto ele a abraçava. Era tarde, muito tarde.

Vinham outros encontros com ela, naquela rotina que nos fazia ficarmos perto. As trocas de olhares, um desejo que parceria sempre presente. Uma sintonia fina e silenciosa. Nenhuma palavra. Um elogio aqui, outro ali. Ela sempre educada, polida, discreta aso agradecer. Eu sempre fascinado, apaixonado, calado. Sim, sempre calado. Perdendo todas as chances possíveis de tentar algo.

Até que, eventualmente, surgia uma coragem para tentar, fazer, buscar, soltar alguma tentativa quase desesperada de algo mais. Elegante, ela escapava, saía, deixava de lado. Demorou um ano até que ela me olhou nos olhos, aberta, disponível, me pedindo, com os olhos, o beijo que eu queria dar nela há tempos. Um beijo incrível e interminável. Aguardado, tanto que os amigos, quando viram, bateram palmas. Finalmente, acontecia.

Acontecia, mas voltava tudo ao que era antes depois de alguns dias. E, depois de alguns meses, aconteceria o mesmo. Tínhamos alguns beijos intensos, incríveis. Só que desta vez, tinha sido mais intenso, mais íntimo. A reação, porém, foi a mesma. Indiferença no dia seguinte. E lá se vai mais um ano.

Ela, longe, me fez querer saber qual era a situação. Por que, afinal, aquela distância? E era simples. É só isso que somos, disse ela. Eu pedi um encontro, no meio de uma tarde, para ouvir que éramos só isso. Que eu ia longe demais no pensamento.

Só que outro ano se passou. E outra festa. E uma expectativa nula. E outra perspectiva. Outra mulher, na verdade. Só que, ao entrar na festa, ela estava lá. O seu vestido em um verde acinzentado (nunca fui bom com cores), um cinto marcando bem sua cintura e a beleza sempre estonteante e que sempre me encantou. E a primeira coisa que ela fez foi segurar firme minhas mãos. E quando percebi, estávamos abraçados, quando ouvi ela me dizer: "Você quer tentar?". Mergulhado em sensações que não podia nem medir, só pude responder: "Eu sempre quis".

O dia seguinte aos beijos, ao ir para lá e para cá de mãos dados não me comoveram desta vez. Sabia que era aquilo e aquilo só. Instável, eu sabia: duraria alguns dias antes de voltar ao "somos só isso". Não mergulhei. Deixei passar. Me antecipei ao fim, lidei como se já fosse como antes. Passou. Éramos só isso de novo. E, logo, não era só isso com outra pessoa. O tempo passou de novo. E veio outro ano.

E estávamaos, de novo, nos olhando. Aquele olhar. Algo que parece inevitável, mas não acontece. Um acontecimento iminente, os lábios que parecem próximos, mas nada acontece. Um beijo, no dia do beijo, e só. Parecia provocação. Nada mais. Ela parecia esperar algo. E eu demorei a entender.  Poucos dias depois de pensar e finalmente entender, fiz o que ela esperava: "Quero namorar com você", disse a ela. "Você não vai pedir?". "Quer namorar comigo?" "Quero! E o que eu ganho com isso?", ela disse. "Além da exclusividade, alguém que gosta muitro de você". E assim foi. E finalmente era namoro. Com mais de três anos de atraso.

Família, cinema. Linda, ela sempre linda. Parecia mais de perto. Cada vez mais. Almoço com a família dela e frases como "cuide bem dela". Parecia que, desta vez, tudo caminhava para dar certo. Um dia dos namorados (comemorado antecipadamente) absolutamente incrível. Uma peça de teatro, um musical. Nós, como namorados, um jantar. Era perfeito.

Mas embora nos víssemos muito, nos palávamos pouco. E tínhamos pouco tempo só para nós dois. Pouco, muito pouco. Muito silêncio. Faltava ser um casal, faltava sermos dois, ir além de ser um casal social. E a distância foi ficando tão grande que parecia difícil resolver. Te vejo como amigo, ela disse certa vez. Uma sentença do fim, adiado por uma viagem. Eram 15 dias para pensarmos melhor. E, então, tudo parecia que tinha acabado. Faltava só o fim.

A distância já era grande demais, mesmo depois de apenas três meses. Uma tristeza amarga já estava no ar. Uma solidão amarga, que não fazia sentido para quem tinha alguém como companheira. A conversa, tão adiada, as palavras tristes, o abraço. A lembrança do melhor dia dos namorados de todos os tempos. Lágrimas. "Se tivéssemos namorado há três anos... Nosso tempo passou", foram as palavras que ela usou no fim. Um fim cantado há semanas, mas todo fim tem suas dores. Uma tristeza amarga, mas breve. Porque logo depois, vem a saudade. E a ideia: daqui um ano tudo pode ser diferente. E a vida segue.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A mulher da estrela de Davi

Sorridente, sempre muito sorridente. Essa, talvez, seja a primeira descrição que as pessoas façam dela. Alguém que mostra alegria sempre, dentro do seu terninho, sua elegância sempre vistosa. Sua alegria parece tanta que às vezes chega a irritar, dá a impressão de ser aquelas pessoas bobas alegres. Essa visão é amenizada pelo sorriso delicioso que ela tem, a beleza encantadora e o olhar doce.

Ao sair da impressão inicial, é possível ver mais. Ver que a beleza é mais do que apenas graciosa. Uma beleza de mulher, sensual, interessante. Demorei para ver isso. Por muito tempo, ela foi apenas colega, alguém que convivi todos os dias, uma amizade que cresceu. Embora a achasse linda, ela era comprometida e, mais do que isso, praticamente casada: morava junto com o namorado de muitos anos. Aliás, pouco depois que a conheci ela virou noiva.

Por tudo isso, não me permitia mais do que achá-la bonita, reparar nela, mas me dedicar apenas à nossa amizade, aos cafés nas tardes de sábado quando conversávamos e encontrávamos outros amigos. É bom dizer que esses sábados eram raros, poucas vezes nos encontrávamos, mas era sempre um prazer, uma tarde de risadas e conversas.

Com o passar do tempo, a amizade cresceu e eu passei a ver aquele rosto sempre sorridente em momentos de tristeza. Por trás da camada sempre sorridente daquela mulher, havia também angústias, tristezas, desilusões, como todos nós. Ela usa a sua alegria para tentar superar isso e para continuar sendo discreta nos lugares onde ela não quer falar sobre isso, como o trabalho, onde eu a conheci.

Vi lágrimas descendo o seu rosto pelas angústias do seu noivado, as aspirações da carreira que tinha, as contas para pagar. Nem o seu otimismo era capaz de evitar que aquelas lágrimas escorressem pelo seu rosto. Depois de ela tanto me ouvir, eu estava ali para ela, fiz o que podia para estar pronto para o que ela precisasse.

Ponto de virada



Depois de um longo temos sem nos vermos, encontrei com ela em um happy hour. Diferente visualmente, mas com uma alegria enorme, seu sorriso sempre intenso e mais carinhosa do que o normal comigo. Disse que iria viajar para a Europa, passar o final do ano por lá.

Naquele dia, ainda fomos para a balada e aproveitamos para conversar um pouco mais. Isso até me perder delas, encontrar uma colega da faculdade, conversar um pouco e voltar a procurar. Não achei. Acabei dormindo, sem querer, em algum ponto da balada. Fui acordado pela minha colega de classe, que estava indo embora. Fui embora também, sem encontrar aquela com quem saí.

Depois, conversamos que foi um desencontro, ela também procurou, não achou. Os dois saímos com a sensação que poderíamos ter ido muito além, ainda mais com o tanto de álcool que consumimos. As amarras dela, sempre fortes, já pareciam mais soltas.

Enquanto ela esteve na Europa, pouco nos falamos, justificadamente. Ela aproveitava para conhecer lugares fantásticos, tirar fotos incríveis e viver algo que ela imaginou durante muito tempo. Resgatava a felicidade que é sua característica.

Quando ela voltou, algo tinha mudado. Parecia menos presa aos próprios costumes, não era mais submissa à sua situação anterior. Era outra mulher. Aliás, essa é a palavra: mulher. Intensa, sensual, capaz de seduzir - algo que eu nunca tinha visto nela. Ela era sempre a mulher quase casada que jamais dava abertura para esse tipo de coisa. Não mais. Era outra. 

O noivado acabou, conforme ela tinha me dito que aconteceria, porque pareciam distantes demais um do outro, ela não suportava mais aquela situação. Confessou, depois, que passou tanto tempo junto dele pelo comodismo. Se gostavam, se conheciam, moravam juntos, por que mudar? A viagem e a distância fizeram com que essa visão mudasse. Ela não se sentia mais tão frágil. Viu que poderia viver sem ele.

E quando combinamos de nos ver, sairmos juntos com alguns amigos, ela era uma mulher quase irresistível. O sorriso era o mesmo, a beleza também, mas a sedução era de níveis que ainda não conhecia. E não demorou para que nossos olhares começassem aquilo que nossos corpos desejavam. A conversa, os elogios, a aproximação... Não poderia acabar de outra forma, um beijo, outro e mais outro, enquanto, na casa dela, esperava ela se arrumar para sairmos.

Naquela noite, acabaram saindo só mulheres. E eu. Mas eu não estava junto com ela, o que aconteceu antes não nos deixou vinculado um ao outro. E isso seria fundamental para o que viria. Ela, linda, sedutora, altamente sexy, chamou a atenção. Não à toa. E, quando percebi, uma das meninas que nos acompanhou na saída falou: "você vai ficar sem casa para dormir", brincava, se referindo ao fato que eu ia dormir na casa daquela que chamava tanto a atenção. Eu disse que não tinha problema, poderia ir direto para casa, esperando amanhecer para ir de metrô.

Foi o que acabou acontecendo. Afinal, ela ficou com um outro cara. E, justiça seja feita, foi assim que quisemos. Não queríamos ser um casal, eu não quis, ela também não. Ela tinha todo o direito, como poderia ter sido eu.

A questão é que ainda parecia que havia uma atração entre nós. E as brincadeiras, sedutoras, sempre continuavam. A amizade continuava ótima, mas com esse tempero colorido que nos deixava mais ligados um no outro. Agora, conversávamos mais, sobre mais coisas, com mais intensidade e sempre um toque de sedução em algumas brincadeiras.

Algum tempo depois, conseguimos marcar para nos ver. E eis que, em meio a uma cerveja e outra, o beijo foi inevitável. Parecia que era mesmo. E foi mais um dia muito bom juntos, mais uma vez mostrando que nossa atração tinha algo delicioso a ser explorado. Mas a vida continuava, cada um por si, com as muitas voltas que ela dá, com os relacionamentos possíveis, com as idas e vindas normais, de sempre, ela com os dela, eu com os meus.

Depois desse dia, porém, não nos vimos mais. Conversas mais raras, espaçadas. Faltava um café, daqueles que fazíamos antes, para poder conversar e colocar tudo em dia. Nas mensagens, ela contou que estava namorando. "Um judeu", ela disse. As mensagens menos frequentes, as conversas já raras quase não aconteciam mais. Até o dia que ela colocou: "em um relacionamento sério" no Facebook. Então, parecia que todos os desejos tinham mesmo sido adiados. Os desejos que o meu corpo sentiam em possuí-la, nem que fosse uma vez, teriam que ser adiados. Talvez, para sempre.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Enlace molhado

Era apenas um flerte, que apesar de nada inocente, esperava pouco. Olhares torridamente trocados, palavras timidamente ditas, vontades que só os pensamentos revelavam. O que era um encontro já se anunciava há algumas semanas, mas a festa veio bem a calhar. Era a oportunidade perfeita. Combinaram. Era chegada a hora.

Naquele dia, os caminhos se encontraram logo no início da noite. Um encontro de olhares, mãos que se seguraram, por poucos segundos, antes de se separarem e se perderem em uma multidão escura. A noite, traiçoeira, trouxe outras surpresas. Não aquele encontro programado, esperado. Veio outra pessoa, outro caso, outra história.

A noite parecia que seria assim - e já seria espetacular se terminasse como terminou. Mas a madrugada reservava mais uma surpresa. Depois de aproveitar a noite de mãos dadas, de forma inesperada, com uma história do passado com capítulos esparsos e sem continuidade, veio um novo encontro. Como aquele lá, do começo, quando as mãos se encontraram e os olhos se devoraram.

Os sorrisos se acharam. Aquele olhar, marcante, forte, sedutor e irresistível, olhava nos olhos de um jeito que a aproximação tornou-se natural. "Vi que você estava com outra", ela disse. "Eu não namoro", ele respondeu. Naquele momento, nenhum deles sabia, mas ali nascia uma atração sedutora e absolutamente livre dos laços de relacionamentos, que tantos problemas causam a milhões de casais.

Ela, ali, disse: "Não fico com caras que namoram". Ele reiterou: "Não namoro". Ambos foram sinceros. Não parece grande coisa, mas essa marca carregariam enquanto se vissem. Os olhares, depois dos esclarecimentos, voltaram a se desejar e as mãos dele envolveram o pescoço dela, aproximando a boca de ambos até tornarem-se inseparáveis.

O desejo percorria o beijo, os cabelos dela no meio dos dedos dele, a pele dela grudada na dele, o olhar sedutor dela com o abraço apertado dele, que a trazia para junto, colando seus quadris, enquanto ele apertava a cintura dela com as mãos, como um escultor moldando sua obra, uma obra-prima, que ele mesmo admirava, linda.

A ligação era forte, de corpo, de olhares, de quadris. A noite chegou ao fim, com a luz começando a enfeitar o dia. Eles não sabiam, mas veriam o dia amanhecer outras vezes, juntos. Mas naquele momento, não importava futuro, nem sabiam se isso existiria, talvez nem se importassem.

O que valia era aquele dia raiado, os beijos molhados, o desejo incontido, o sabor ácido. Era um laço de sedução. Um laço que iriam abrir para aproveitar a paixão devassa, avassaladora e intensa. Mas isso seria outro dia. Naquele, se despediram com um beijo, tórrido - uma marca que deixariam um com o outro, como um souvenir definitivo daquela relação.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Príncipe encantado, WHO?!

Por Cris Chaim [@crischaim | Facebook]

Toda menina acredita em príncipe encantado.

Toda menina acredita que sua grande paixão dará certo. E sem a intervenção alheia.

Ter castelo era como ter carro: não ganha mulher, mas ajuda
É, até os 20 anos , 98%  de nós acreditam em , pelo menos, duas das três afirmações acima.  E até os 20 anos, 100% de nós descobriremos que nenhuma das afirmações é verdadeira. Vejamos por que.

Príncipes encantados não existem hoje, não existiram no século passado e muito menos na idade média. Principes Harry e William da Inglaterra já foram auges dos tablóides por bebedeiras, drogas e noitadas com desconhecidas. Seu pai, Príncipe Charles, é famoso por seu caso extra-nupcial com Camilla Parker.

Ao longo dos séculos, as princesas não escolhiam com quem casassem nem recebiam juras de amor, era tudo montado e combinado, além disso, muitas vezes, não dormiam no mesmo quarto que seus maridos. Por que, então, em pleno século XXI eles surgiriam encantados à sua porta?

A intervenção alheia. A história de amor da moça rica e do moço pobre (ou vice versa) não funcionará. Por quê? Quando se namora alguém a serio, se namora a família e os amigos.  Pense em festas de família, reuniões, aniversários; as realidades, os assuntos e até os hábitos são diferentes e hão de causar constrangimentos. Imagine uma sogra chegando com Cidra e a outra com Veuve Cliquot. Mico certo para os dois lados.

Pode haver boa vontade em ambos as famílias e amigos, mas a convivência é difícil e concessões deverão ser feitas. Será que valem a pena? O poeta diz que sim, mas e se a alma for pequena? Será que todos estão dispostos? Será um trabalho árduo e em equipe.

Entretanto, não se desespere, leitor(a), com certeza, em algum lugar do mundo você encontra seu  par ideal, que equilibre realidade e contos de fada. Basta procurar. Ou não, parece que quanto mais procuramos menos achamos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O cartão de aniversário

Ela surgiu inesperadamente. Ela era só um sorriso, que me encantou e fez com que mandasse uma mensagem. Em uma rede social, às vezes isso acontece. Normalmente, fica por aí. Não desta vez. Ela não só respondeu, mas mostrou-se impressionada pelo que escrevi na mensagem e no meu perfil. Quis ir adiante. E foi.

A conversa foi tão boa que tornou-se favorita em pouco tempo. Online, offline, pelo telefone ou e-mail, comunicação sempre que quiséssemos, quase todos os dias. Tudo depois de um primeiro encontro marcante.

Naquele dia, o trabalho me prendeu mais tempo do que o esperado. Ia atrasar. Ela esperou mais de meia hora. Compreensiva. Reclamou, brincou, com sua voz sempre debochada. E foi só bater meus olhos nela, vestida toda de social, com um vestido preto, justo, uma blusa por cima e meia-calça, sapatos de salto alto, que soube que ela iria causar um impacto forte. Não ia ser pequeno. Impecável. Linda. O coração já batia na garganta.

Afinidade instantânea, somada ao senso de humor ácido que nos tomava. Rimos, bebemos, nos divertimos. O encanto era evidente. Ela e eu viramos nós, em beijos intensos. Ela me dizia que era o que ela queria. Não acreditou quando eu disse que não namorava, que meus relacionamentos duravam um mês ou dois. Disse que eu teria que ficar com ela pelo menos seis meses, depois eu poderia escolher se continuava. Me olhou maliciosamente depois disso e disse: "Mas você vai querer mais". E sorriu.

Ela teria, dali quase três meses, um concurso importante. A prova da OAB. Ela precisava passar, porque disso dependia sua continuidade na empresa onde fazia estágio. Ela precisava se preparar. Se isolou do mundo para isso. Aos poucos, o contato que antes era intenso passou a ser menor, até chegar a quase não se falar mais. Em um mês, aquele encanto tinha mudado. Um encontro, e era só isso que tinha. Parecia que também seria o último.

Ela voltou. Com ciúmes. Perguntou se eu tinha ficado com alguém desde que nos vimos. Respondi que sim. Ela ficou decepcionada. Justifiquei, disse que ela sumiu, não parecia querer mais nada, sequer me respondia quando a procurava. Ela disse que me queria do lado, mas não me obrigaria a esperar por ela. Esperaria. Ela se mostrou disposta a estar mais presente.

Me sentia parado no tempo. Tempo que não passava. Sentia que estava preso a uma coisa que, a cada dia, fica mais e mais incerta. Não dava mais para saber o que viria. Mas eu apostei. Apostei, porque naquele primeiro encontro ela tinha me conquistado. Resolvi que esperaria. Pagaria para ver.


Disposta a me mostrar que queria mesmo que ficássemos juntos, me convidou para encontrá-la na porta do cursinho que ela fazia à noite. Um encontro rápido. Ela me cobrou o cartão de aniversário, que já tinha passado e não tínhamos nos visto. Tinha esquecido. O segundo encontro foi um mês depois do primeiro.

No aniversário dela, umas três semanas antes do segundo encontro, comprei um cartão e escrevi nele de ponta a ponta. Contei a ela. Disse que tinha feito um rascunho primeiro e depois, quando escrevi, mudei tudo. Ela disse que queria ver os dois. E quando nos vimos, naquele encontro rápido, eu esqueci de levar. Foi entre o primeiro e o segundo encontro. Não pudemos nos ver porque ele ficou atolada em trabalho. Ficou para o próximo encontro.

Depois de ficar contando dia após dia a hora de ela estar finalmente liberada, a prova passou. Ela se preparou para a segunda fase, continou estudando. E passou também a proximidade,as conversas, as mensagens de texto antes de dormir ou em algum momento para surpreender.

Ela sumiu, desta vez, como um fantasma. Não respondia mais nada, não me atendia mais. Não aceitei isso. Não entendia, como podia aceitar? Nas últimas vezes que nos falamos, ela disse que quando nos vissemos de novo, ela que me pediria em namoro, porque não queria mais me deixar escapar. Nunca mais. Só que o nunca mais foi outro.

Passou o tempo. Um, dois, três meses... Ela parecia não existir mais. Até que disse que passou no exame da OAB. Parabenizei, disse que ela se esforçou, mereceu. E disse também que ela sumiu, que não entendi nada e mostrei o quanto eu estava decepcionado com ela por isso.

Surpreendentemente, depois de alguns dias, ela respondeu. Disse que se isolou do mundo, não saía mais, não via mais os amigos, só se preocupava em terminar a faculdade e passar na prova da OAB. Que há meses não saía nos finais de semana, que passava sempre vendo séries. Passou na prova. E queria retomar a vida. Pediu desculpas, disse que eu devia estar com muira raiva dela. Disse que queria retomar várias coisas da vida, e queria que eu fizesse parte disso, se pudesse perdoá-la.

As coisas não são tão simples. Disse que ela tinha que reconquistar minha confiança. Nada é tão simples. Estava disposto a tentar, mas é difícil confiar em alguém que parece tão instãvel. Ela parecia disposta de novo. Parecia que as coisas entrariam nos eixos. Só parecia. A montanha russa vai das partes altas para as partes baixas rápido. Mais rápido do que se consegue pensar nisso.

Não demorou para que ela sumisse de novo. Desta vez, porém, eu sabia que seria a última. Assim como a outra vez, não respondia mais, telefone não atende. Virou uma sombra. Era o ponto final. Se na primeira vez quis xingá-la, fiquei com raiva, queria dizer todas as grosserias do mundo de uma só vez, dessa vez a sensação era só de decepção por ser alguém que eu pensei que ela era especial. Que ela seria, ao menos. E mostrou covardia. Porque sumir sem nenhuma explicação, depois de tudo que ela disse, me parece isso.

Era para ser o fim, mas eu quis colocar mais um tempero na história. Peguei o cartão de aniversário dela, aquele que ela nunca viu, de quatro meses antes. Coloquei no correio com o endereço do trabalho dela. Ela finalmente leria.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O relacionamento sem diálogos

A esperança era grande. Sempre era. Sempre que a via aquela chama acendia. Querendo ou não. Era dia, o sorriso dela já tinha sido mostrado. Agora era diferente. Já havia um passado, ainda que único e pontual. Havia muita história. Mas o que nunca houve foi diálogo.

A descrição de um encantado talvez seja falha. Talvez imprecisa. Mas sem dúvida, é bela. Os olhos pintados, a saia curta e colorida, o corpete preto. O olhar impenetrável de sempre. Linda, com os cabelos enrolados, a maquiagem ressaltando seus olhos castanhos, a pele branquinha, macia como os meus sentidos não deixam esquecer.

As mãos escorregadias escapavam de mim a todo momento. Não adiantavam gestos, e as palavras mal saíam. Ela mal olhava. Nossos diálogos eram inexistentes. Só aconteciam quando estávamos em conversas com outras pessoas. Só assim aqueles olhos encantadores me olhavam e eu podia vê-los, bem no fundo.

A noite passou, a madrugada invadiu e trouxe surpresas. Ela dormia, todos dormíamos. Amigos, que dividiam aquele espaço naquela noite. A proximidade entre nós me levou para mais perto dela, envolvendo-a com um abraço. Um abraço que foi correspondido, de forma surpreendente. Um abraço que transformou-se em sonho, em um pedaço do paraíso. Um sonho envolto em beijos que pareciam ter parado o tempo.

Um suspiro suave e o mundo desaparece. Minutos que não tem segundos. Mas que acabam...

E trazem de vlta a dúvida, a falta de olhares, a ausência completa do diálogo. Alguns sorrisos, algumas palavras. Muitas palavras no silêncio, mas nenhuma sobre o mundo que ficou parado, sobre os sentimentos indescritíveis que passavam ali na minha cabeça. E as palavras não saíram, e o tempo passou e a dúvida ficou.