quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Príncipe encantado, WHO?!

Por Cris Chaim [@crischaim | Facebook]

Toda menina acredita em príncipe encantado.

Toda menina acredita que sua grande paixão dará certo. E sem a intervenção alheia.

Ter castelo era como ter carro: não ganha mulher, mas ajuda
É, até os 20 anos , 98%  de nós acreditam em , pelo menos, duas das três afirmações acima.  E até os 20 anos, 100% de nós descobriremos que nenhuma das afirmações é verdadeira. Vejamos por que.

Príncipes encantados não existem hoje, não existiram no século passado e muito menos na idade média. Principes Harry e William da Inglaterra já foram auges dos tablóides por bebedeiras, drogas e noitadas com desconhecidas. Seu pai, Príncipe Charles, é famoso por seu caso extra-nupcial com Camilla Parker.

Ao longo dos séculos, as princesas não escolhiam com quem casassem nem recebiam juras de amor, era tudo montado e combinado, além disso, muitas vezes, não dormiam no mesmo quarto que seus maridos. Por que, então, em pleno século XXI eles surgiriam encantados à sua porta?

A intervenção alheia. A história de amor da moça rica e do moço pobre (ou vice versa) não funcionará. Por quê? Quando se namora alguém a serio, se namora a família e os amigos.  Pense em festas de família, reuniões, aniversários; as realidades, os assuntos e até os hábitos são diferentes e hão de causar constrangimentos. Imagine uma sogra chegando com Cidra e a outra com Veuve Cliquot. Mico certo para os dois lados.

Pode haver boa vontade em ambos as famílias e amigos, mas a convivência é difícil e concessões deverão ser feitas. Será que valem a pena? O poeta diz que sim, mas e se a alma for pequena? Será que todos estão dispostos? Será um trabalho árduo e em equipe.

Entretanto, não se desespere, leitor(a), com certeza, em algum lugar do mundo você encontra seu  par ideal, que equilibre realidade e contos de fada. Basta procurar. Ou não, parece que quanto mais procuramos menos achamos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O cartão de aniversário

Ela surgiu inesperadamente. Ela era só um sorriso, que me encantou e fez com que mandasse uma mensagem. Em uma rede social, às vezes isso acontece. Normalmente, fica por aí. Não desta vez. Ela não só respondeu, mas mostrou-se impressionada pelo que escrevi na mensagem e no meu perfil. Quis ir adiante. E foi.

A conversa foi tão boa que tornou-se favorita em pouco tempo. Online, offline, pelo telefone ou e-mail, comunicação sempre que quiséssemos, quase todos os dias. Tudo depois de um primeiro encontro marcante.

Naquele dia, o trabalho me prendeu mais tempo do que o esperado. Ia atrasar. Ela esperou mais de meia hora. Compreensiva. Reclamou, brincou, com sua voz sempre debochada. E foi só bater meus olhos nela, vestida toda de social, com um vestido preto, justo, uma blusa por cima e meia-calça, sapatos de salto alto, que soube que ela iria causar um impacto forte. Não ia ser pequeno. Impecável. Linda. O coração já batia na garganta.

Afinidade instantânea, somada ao senso de humor ácido que nos tomava. Rimos, bebemos, nos divertimos. O encanto era evidente. Ela e eu viramos nós, em beijos intensos. Ela me dizia que era o que ela queria. Não acreditou quando eu disse que não namorava, que meus relacionamentos duravam um mês ou dois. Disse que eu teria que ficar com ela pelo menos seis meses, depois eu poderia escolher se continuava. Me olhou maliciosamente depois disso e disse: "Mas você vai querer mais". E sorriu.

Ela teria, dali quase três meses, um concurso importante. A prova da OAB. Ela precisava passar, porque disso dependia sua continuidade na empresa onde fazia estágio. Ela precisava se preparar. Se isolou do mundo para isso. Aos poucos, o contato que antes era intenso passou a ser menor, até chegar a quase não se falar mais. Em um mês, aquele encanto tinha mudado. Um encontro, e era só isso que tinha. Parecia que também seria o último.

Ela voltou. Com ciúmes. Perguntou se eu tinha ficado com alguém desde que nos vimos. Respondi que sim. Ela ficou decepcionada. Justifiquei, disse que ela sumiu, não parecia querer mais nada, sequer me respondia quando a procurava. Ela disse que me queria do lado, mas não me obrigaria a esperar por ela. Esperaria. Ela se mostrou disposta a estar mais presente.

Me sentia parado no tempo. Tempo que não passava. Sentia que estava preso a uma coisa que, a cada dia, fica mais e mais incerta. Não dava mais para saber o que viria. Mas eu apostei. Apostei, porque naquele primeiro encontro ela tinha me conquistado. Resolvi que esperaria. Pagaria para ver.


Disposta a me mostrar que queria mesmo que ficássemos juntos, me convidou para encontrá-la na porta do cursinho que ela fazia à noite. Um encontro rápido. Ela me cobrou o cartão de aniversário, que já tinha passado e não tínhamos nos visto. Tinha esquecido. O segundo encontro foi um mês depois do primeiro.

No aniversário dela, umas três semanas antes do segundo encontro, comprei um cartão e escrevi nele de ponta a ponta. Contei a ela. Disse que tinha feito um rascunho primeiro e depois, quando escrevi, mudei tudo. Ela disse que queria ver os dois. E quando nos vimos, naquele encontro rápido, eu esqueci de levar. Foi entre o primeiro e o segundo encontro. Não pudemos nos ver porque ele ficou atolada em trabalho. Ficou para o próximo encontro.

Depois de ficar contando dia após dia a hora de ela estar finalmente liberada, a prova passou. Ela se preparou para a segunda fase, continou estudando. E passou também a proximidade,as conversas, as mensagens de texto antes de dormir ou em algum momento para surpreender.

Ela sumiu, desta vez, como um fantasma. Não respondia mais nada, não me atendia mais. Não aceitei isso. Não entendia, como podia aceitar? Nas últimas vezes que nos falamos, ela disse que quando nos vissemos de novo, ela que me pediria em namoro, porque não queria mais me deixar escapar. Nunca mais. Só que o nunca mais foi outro.

Passou o tempo. Um, dois, três meses... Ela parecia não existir mais. Até que disse que passou no exame da OAB. Parabenizei, disse que ela se esforçou, mereceu. E disse também que ela sumiu, que não entendi nada e mostrei o quanto eu estava decepcionado com ela por isso.

Surpreendentemente, depois de alguns dias, ela respondeu. Disse que se isolou do mundo, não saía mais, não via mais os amigos, só se preocupava em terminar a faculdade e passar na prova da OAB. Que há meses não saía nos finais de semana, que passava sempre vendo séries. Passou na prova. E queria retomar a vida. Pediu desculpas, disse que eu devia estar com muira raiva dela. Disse que queria retomar várias coisas da vida, e queria que eu fizesse parte disso, se pudesse perdoá-la.

As coisas não são tão simples. Disse que ela tinha que reconquistar minha confiança. Nada é tão simples. Estava disposto a tentar, mas é difícil confiar em alguém que parece tão instãvel. Ela parecia disposta de novo. Parecia que as coisas entrariam nos eixos. Só parecia. A montanha russa vai das partes altas para as partes baixas rápido. Mais rápido do que se consegue pensar nisso.

Não demorou para que ela sumisse de novo. Desta vez, porém, eu sabia que seria a última. Assim como a outra vez, não respondia mais, telefone não atende. Virou uma sombra. Era o ponto final. Se na primeira vez quis xingá-la, fiquei com raiva, queria dizer todas as grosserias do mundo de uma só vez, dessa vez a sensação era só de decepção por ser alguém que eu pensei que ela era especial. Que ela seria, ao menos. E mostrou covardia. Porque sumir sem nenhuma explicação, depois de tudo que ela disse, me parece isso.

Era para ser o fim, mas eu quis colocar mais um tempero na história. Peguei o cartão de aniversário dela, aquele que ela nunca viu, de quatro meses antes. Coloquei no correio com o endereço do trabalho dela. Ela finalmente leria.