Agora o jogo tinha tempo para terminar. Aliás, pouco tempo. O placar marca 2 x 0, e meu time já fez todas as jogadas do seu repertório, sem sucesso. Os poucos ataques bem sucedidos não acabaram em gol. Envolvi a defesa adversária, conquistei o interesse dela. Contra ataquei tão rápido, que consegui passar a forte linha defensiva e ganhar alguns beijos. Jogadas com uma intensidade daquela seleção brasileira de 1982, com Zico, Sócrates e Falcão. Ali, com aquelas jogadas, aquele time, me senti como todo brasileiro na Copa de 82: a taça é nossa.
Eis que surge a Azzura. O jogo está 2 x 0, meu time é melhor, mas não consigo sequer empatar o jogo. O casamento tá marcado, e se aproxima a cada dia. O terceiro gol - o casamento em si - parece só uma questão de tempo. Minha defesa não parece capaz de deter esses contra ataques fulminantes, e com hora marcada.
Incrivelmente, meu time luta. Luta com aquela vontade de um garato que foi recém promovido das categorias de base, e precisa mostrar serviço na equipe de cima. Uma vontade muito acima da média, uma determinação que supera todas as dificuldades. Os gols tomados não chegaram a abater a equipe, que continua bombardeando o gol adversário com ataques de todas as formas. O time articulou jogadas que eu nunca vi, com inspiração que nunca vi em nenhum outro time. Meu time joga tão bem que é difícil entender porque ainda estou perdendo. As jogadas são de Ronaldinho Gaúcho, com o sorriso no rosto. Nenhum abatimento. Nenhuma lamentação. Apenas determinação e a busca incasável pelo gol - que insiste em não vir.
Cada ataque é um sofrimento. Parece que a bola vai entrar, o atacante deixou o zagueiro no chão, está de frente para o gol... "Eu amo meu noivo"... PEGA O GOLEIRO! O time se remonta, o ataque vem de novo. Cruzamento na área, o atacante domina no peito, dá um chapéu no zagueiro, dribla o goleiro, meus lábios perto dos dela... "Não posso"... NA TRAVE!
O jogo continua, e o placar é o mesmo. A derrota parece certa. Não para o meu time, brigador, lutador, esperançoso, habilidoso, competente. Até quando esse time vai acreditar que é possível?
A resposta é simples. Um dito popular se adequa perfeitamente: em futebol, o jogo só termina quando acaba.