domingo, 11 de setembro de 2011

Era para dar certo, mas...

O primeiro impacto já foi grande. Os cabelos cacheados, a pele branquinha, os olhos altamente expressivos, o olhar fosse sempre distante. Ela sempre impecável, com uma expressão sempre fria, analítica. Maturidade, calma nas palavras, os olhos brilhando ao falar. Inteligente, muito serena. Entre uma e outra palavra, um sorriso, discreto, mas marcante.

Na primeira festa, lá estava ela. Quando cheguei, a festa tinha começado há horas. Era a primeira com um novo grupo de amigos. Fui direto do trabalho, cansado, alguns já estavam bêbados, o som alto demais. E quando eu vi, aqueles olhos estavam lá. Só que passsavam longe de mim. Muito longe. Olhavam para outro, de perto, enquanto ele a abraçava. Era tarde, muito tarde.

Vinham outros encontros com ela, naquela rotina que nos fazia ficarmos perto. As trocas de olhares, um desejo que parceria sempre presente. Uma sintonia fina e silenciosa. Nenhuma palavra. Um elogio aqui, outro ali. Ela sempre educada, polida, discreta aso agradecer. Eu sempre fascinado, apaixonado, calado. Sim, sempre calado. Perdendo todas as chances possíveis de tentar algo.

Até que, eventualmente, surgia uma coragem para tentar, fazer, buscar, soltar alguma tentativa quase desesperada de algo mais. Elegante, ela escapava, saía, deixava de lado. Demorou um ano até que ela me olhou nos olhos, aberta, disponível, me pedindo, com os olhos, o beijo que eu queria dar nela há tempos. Um beijo incrível e interminável. Aguardado, tanto que os amigos, quando viram, bateram palmas. Finalmente, acontecia.

Acontecia, mas voltava tudo ao que era antes depois de alguns dias. E, depois de alguns meses, aconteceria o mesmo. Tínhamos alguns beijos intensos, incríveis. Só que desta vez, tinha sido mais intenso, mais íntimo. A reação, porém, foi a mesma. Indiferença no dia seguinte. E lá se vai mais um ano.

Ela, longe, me fez querer saber qual era a situação. Por que, afinal, aquela distância? E era simples. É só isso que somos, disse ela. Eu pedi um encontro, no meio de uma tarde, para ouvir que éramos só isso. Que eu ia longe demais no pensamento.

Só que outro ano se passou. E outra festa. E uma expectativa nula. E outra perspectiva. Outra mulher, na verdade. Só que, ao entrar na festa, ela estava lá. O seu vestido em um verde acinzentado (nunca fui bom com cores), um cinto marcando bem sua cintura e a beleza sempre estonteante e que sempre me encantou. E a primeira coisa que ela fez foi segurar firme minhas mãos. E quando percebi, estávamos abraçados, quando ouvi ela me dizer: "Você quer tentar?". Mergulhado em sensações que não podia nem medir, só pude responder: "Eu sempre quis".

O dia seguinte aos beijos, ao ir para lá e para cá de mãos dados não me comoveram desta vez. Sabia que era aquilo e aquilo só. Instável, eu sabia: duraria alguns dias antes de voltar ao "somos só isso". Não mergulhei. Deixei passar. Me antecipei ao fim, lidei como se já fosse como antes. Passou. Éramos só isso de novo. E, logo, não era só isso com outra pessoa. O tempo passou de novo. E veio outro ano.

E estávamaos, de novo, nos olhando. Aquele olhar. Algo que parece inevitável, mas não acontece. Um acontecimento iminente, os lábios que parecem próximos, mas nada acontece. Um beijo, no dia do beijo, e só. Parecia provocação. Nada mais. Ela parecia esperar algo. E eu demorei a entender.  Poucos dias depois de pensar e finalmente entender, fiz o que ela esperava: "Quero namorar com você", disse a ela. "Você não vai pedir?". "Quer namorar comigo?" "Quero! E o que eu ganho com isso?", ela disse. "Além da exclusividade, alguém que gosta muitro de você". E assim foi. E finalmente era namoro. Com mais de três anos de atraso.

Família, cinema. Linda, ela sempre linda. Parecia mais de perto. Cada vez mais. Almoço com a família dela e frases como "cuide bem dela". Parecia que, desta vez, tudo caminhava para dar certo. Um dia dos namorados (comemorado antecipadamente) absolutamente incrível. Uma peça de teatro, um musical. Nós, como namorados, um jantar. Era perfeito.

Mas embora nos víssemos muito, nos palávamos pouco. E tínhamos pouco tempo só para nós dois. Pouco, muito pouco. Muito silêncio. Faltava ser um casal, faltava sermos dois, ir além de ser um casal social. E a distância foi ficando tão grande que parecia difícil resolver. Te vejo como amigo, ela disse certa vez. Uma sentença do fim, adiado por uma viagem. Eram 15 dias para pensarmos melhor. E, então, tudo parecia que tinha acabado. Faltava só o fim.

A distância já era grande demais, mesmo depois de apenas três meses. Uma tristeza amarga já estava no ar. Uma solidão amarga, que não fazia sentido para quem tinha alguém como companheira. A conversa, tão adiada, as palavras tristes, o abraço. A lembrança do melhor dia dos namorados de todos os tempos. Lágrimas. "Se tivéssemos namorado há três anos... Nosso tempo passou", foram as palavras que ela usou no fim. Um fim cantado há semanas, mas todo fim tem suas dores. Uma tristeza amarga, mas breve. Porque logo depois, vem a saudade. E a ideia: daqui um ano tudo pode ser diferente. E a vida segue.