sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Cartas Reais

Querida,

A idéia dessa carta surgiu depois da minha angústia por não ter te falado tudo que pensei. Não falei porque não achei que era necessário. Achei que meus olhares, minha voz, meus gestos e todas as vezes que eu peguei na sua mão tivessem sido suficientes. Fiquei agoniado quando vi que não foi e as palavras ficaram engasgadas na minha boca, explodindo no meu peito.

Sinto sua falta. Falta das nossas conversas, da proximidade, do calor das suas mãos. Sinto falta do seu sorriso...

Queria que aquela nossa dança não tivesse terminado. Queria estar com você, sentir seu perfume, tocar seu rosto, ouvir sua voz, te abraçar pela cintura e sentir meu coração pular para o seu peito. Depois daquela dança, você esteve tão distante... A nossa conversa sobre teatro me esquentou o coração, você provavelmente não sabe o quanto me fez bem. Te senti um pouco mais perto...

O clima de romance domina o nosso ambiente, você já reparou? Alguns casais se desenhavam há tempos. E um deles, adivinhe, somos nós. Os casais estão se consolidando cada vez mais, mas nós continuamos distantes.

Naquela noite, fiquei sem entender o que fez seus lábios ficarem tão distantes dos meus. Estivemos tão perto um do outro... Achei até que talvez fosse falha minha. Achei que devia ter falado todas as palavras que eu não disse, ao invés de tentar te conquistar com meus olhos, minhas mãos, minha proximidade.

Mas hoje você me mostrou a razão. E foi da pior forma possível. Quando você chegou na nossa roda de violões, músicas românticas e com casais se formando, você foi para os braços de outra pessoa. Me fez sentir o golpe frio da espada cortando meu peito quando o beijou.

Era ele. Foi por ele que você se esquivou de mim. Ele é primo de uma grande amiga sua. Mais do que tudo isso, o que me assusta é talvez você simplesmente não querer experimentar de toda paixão que guardo para você. Você só querer ele...

O Sonho de Valsa que eu levei só para você ficou guardado. Sou um romântico incurável e sei que pode parecer bobo. Queria poder olhar seu rosto e sentir seu sorriso esquentar meu peito... Queria dizer que você me faz bem, que seu jeito simples me encanta. Adoraria te dizer que você é linda, que você me faz sonhar.

Há uma semana, tinha certeza que teríamos o nosso primeiro beijo. Hoje, não sei nem se ele vai acontecer algum dia...

Com carinho,

....

domingo, 21 de setembro de 2008

O gelo que não quebrou

Foto: duchesssa
Antes, era apenas uma festa, onde certamente beberia com os amigos, dançaria, enfim, diversão. Até a despedida de quinta, quando ela, segurando minha mão, perguntou se eu ia. Respondi que sim e ela disse que também iria. Uma sensação gostosa de satisfação pela boa surpresa me dominou da cabeça aos pés. Seria muito melhor do que eu tinha pensado.

Veio o dia seguinte, a correria, tarefas intermináveis até mais de dez da noite. Era hora de irmos. Amigos todos juntos, enchemos o carro e fomos ao encontro dos demais, na casa de um deles - onde ela ainda se arrumaria e ficaria ainda mais linda.

"Qual batom?", ela perguntou, olhando para mim através do espelho que estava na nossa frente enquanto lavava meu rosto. "Rosa", disse, olhando um dos dois que ela tinha na mãos. Estava encantado com a beleza e a presença dela.

Éramos só os dois ali, um ao lado do outro, eu encantado com os olhos, a pele, a boca, o cabelo, o sorriso, a voz... Talvez por isso eu não tivesse a velocidade de raciocínio para dar respostas menos óbvias. Sentia que tinha tudo para ser aquele o dia que ficaríamos juntos pela primeira vez.

Na festa, fomos pegar bebidas juntos. Peguei na mão dela e ela não fez nenhuma questão de soltar. Parecia bom sinal. Depois, nos separamos por alguns minutos, até nos reencontrarmos novamente. Mais algumas tentativas de aproximação, quase sem palavras... Não sabia o que dizer.
Foto: Exian
Juntos, mas ainda separados...

Dança, dança, dança. Dançamos juntos. Bem juntos. Beijos no pescoço dela e parecia que o beijo finalmente sairia...

Mas não saiu. E se me perguntarem por que, eu direi: não sei. Eu queria, eu achei que ela queria, nós dançávamos juntos, nossas bocas estavam tão perto... O que faltou?

Ao nosso lado, uma situação quase idêntica: um amigo dançava com outra amiga, mas o beijo ali também não saía.

Eu não consegui dizer a ela o quanto a queria. Tentava olhar nos olhos dela, que nunca se encontravam com os meus... Estávamos abraçados, dançando juntos, mas o beijo não acontecia. Não sabia o que fazer.

A música mudou, nos separamos de novo. Algum tempo depois, duas mulheres estavam dançando perto de nós. Uma se aproximou dançando grudada em um dos nossos amigos - que parecia não querer ela por perto.

Ela pouco a pouco foi se deslocando para minha direção, junto com outra menina. Começaram a se aproximar tanto que não tive pra onde fugir. Se esfregavam em mim, enquanto eu procurava por quem eu queria, por quem

As duas se esfregavam Uma dela tentou me beijar. "Deixa eu te beijar", ela me disse, depois de algumas tentativas frustradas de aproximar a boca da minha. "É melhor não", eu respondi. Não queria mais ninguém. Só queria uma. Se não fosse ela, não queria mais ninguém aquela noite.

Na despedida, ela beijou meu rosto. Olhando para ela, com aqueles olhos me fitando, disse: "você está linda..."

A noite que tinha tudo para ser a primeira junto acabou só com mais expectativa. Como bem disse o grande amigo que passou pela mesma situação (lembra da cena da dança? Era ele), não adianta pensar no que poderia ter feito - embora seja inevitável pensar nela...

O que sobrou foi a lembrança dela, do sorriso, dos momentos de mãos dadas, da dança... E da expectativa pelo beijo, que continua intensa...